Médios e Grandes Produtores
Quem produz alimento lida diariamente com custo, preço e margem. Até aqui, o imposto muitas vezes entrava como um “detalhe” difícil de explicar no fim da conta. Com a Reforma Tributária do consumo, isso muda: o imposto passa a interferir diretamente na forma como a empresa rural compra, vende, organiza contratos e administra o caixa.
A boa notícia é que, para médios e grandes produtores, a reforma também abre oportunidades reais de organização e eficiência, especialmente para quem se antecipa.
1. Revisão do fluxo de créditos e do estoque
Com a criação do IBS e da CBS, o aproveitamento de créditos passa a exigir controle mais rigoroso de entradas e saídas. Para quem opera com grande volume de insumos (fertilizantes, sementes, defensivos, embalagens, logística), crédito mal controlado vira custo oculto.
Oportunidade prática:
- Mapear todos os pontos da cadeia que geram crédito;
- Integrar controle de estoque com emissão de notas fiscais;
- Simular cenários usando a calculadora da CNA antes de definir preços de safra.
2. Reorganização societária e patrimonial
Produtores que concentram produção, beneficiamento, logística e comercialização em uma única empresa podem perder eficiência no novo sistema.
Exemplo comum:
Uma fazenda que produz frutas, processa polpa e vende para o varejo. Ao separar produção, indústria e comercialização em estruturas distintas (com contratos bem desenhados), é possível organizar melhor os créditos, reduzir riscos e proteger patrimônio.
Essa reorganização deve ser feita com critério jurídico e contábil, mas passa a ser uma ferramenta estratégica — não apenas patrimonial, pois é necessário avaliar a reorganização societária e operacional, quando houver propósito econômico real, com reflexos legítimos no aproveitamento de créditos. Abrir empresas apenas com a finalidade de obter créditos, sem propósito negociar para além do imposto, traz riscos reais com consequências graves para o empresário.
3. Revisão de contratos de venda e formação de preços
O IBS e a CBS exigirão destaque em documentos fiscais, o que impacta negociações com supermercados, atacadistas e exportadores.
Pontos de atenção:
- Quem absorve o imposto no preço?
- Como o crédito será aproveitado pelo comprador?
- O prazo de pagamento compromete o fluxo de caixa?
Contratos antigos, baseados na lógica do ICMS/PIS/COFINS, precisam ser revisados para evitar perda de margem.
4. Cadeia de insumos e regimes diferenciados
A legislação prevê tratamentos diferenciados para alimentos, produtos in natura e insumos agropecuários. Isso significa que a escolha do fornecedor passa a ter impacto direto no custo final.
Oportunidade prática:
- Priorizar fornecedores que gerem crédito plenamente aproveitável;
- Avaliar impacto tributário de insumos importados versus nacionais;
- Recalcular custo de produção considerando regimes reduzidos.
5. Digitalização fiscal como vantagem competitiva
A partir de 2026, erros em nota fiscal não serão apenas burocráticos — podem significar perda direta de crédito.
Médios e grandes produtores devem:
- Investir em ERP integrado ao fiscal;
- Treinar equipe administrativa;
- Testar emissão de documentos antes da entrada em vigor plena.
A Reforma Tributária não é apenas um novo imposto — é uma mudança de lógica. Quem tratar o tema como estratégia, e não apenas como obrigação, tende a ganhar eficiência, previsibilidade e competitividade.
